Ah, serpente!
“Preocupo-me quando estou despreocupado por ti!
Estou em perigo quando ando na floresta distraído pelas cores das borboletas, encantado pelo canto dos pássaros e extasiado pela imponência das grandes árvores!
Neste momento tu estás camuflada à espera, não de mim, mas de qualquer um que vagueando possa chegar perto de ti e experimentar a dor do teu veneno, que tanto desejas colocar em tua presa, estando ou não faminta. Se estiveres com fome, muito pior.
Porém, quando tu apareces e ficas diante de mim, minha preocupação vai embora.
A distração dá lugar ao foco e à sabedoria do que deve ser feito: manter a distância necessária e deixar você seguir o seu caminho (porque não é mal ser serpente, mas é perigoso conviver com elas, ao menos por perto.). Há quem goste, não eu!”
Ah, serpente!
Sei que para teus filhos és mãe protetora e na natureza tens teu lugar. Eu o respeito. Respeito o teu direito de ser quem tu és, pois Deus assim te fez.
Mas Ele mesmo deu a todos o direito de defender suas vidas, suas crias e seu território.
Por isso, hoje deixo seguires teu caminho. Mesmo porque, na floresta estamos é lugar de todos e eu não estou faminto. Não vou interromper teu ciclo porque, vendo-te, sinto-me agora verdadeiramente seguro.
Mas se chegares mais perto do meu território onde, com amor e suor construí com a graça de Deus e ameaçar os meus, não relutarei em usar o cajado feito de jatobá, banhado por anos em verniz com brilho, presente do meu pai.
Se precisar farei as manobras que ele me ensinou desde criança: uma paulada na coluna para te paralisar e outra na cabeça para abreviar teu sofrimento.
E se chegarmos a isso, prometo-te que na hora final farei uma oração para que, na próxima você, você venha uma bela borboleta colorida e inocente, admirada (e não temida) por todos.
(São Paulo, 16 de junho de 2020) –
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