Instinto de procriação e abuso

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O ser  humano quer procriar. Para os cristão e para os judeus é esta uma das ordens mais expressas da Bíblia: “crescei e multiplicai-vos” (Gen, 1, 28). É através basicamente deste impulso que a humanidade evoluiu. Sem ele, sequer haveria humanidade. Este impulso é eros, o impulso sexual da vida, a libido para a psicanálise freudiana. A biologia evoluiu para tentar contabilizar este impulso através da medição da testosterona no homem  e da progesterona na mulher.

Se a humanidade dirigisse sua vida apenas e tão somente por este impulso, seríamos apenas mais um grupo de seres, sem razão. Seriamos mais um grupo de macacos comendo, dormindo e procriando. Por isso, o ser humano não pode ser reduzido a eros. Ele também é logos. Logos é a linguagem, a expressão, aquilo que é pensado, o racional.

Então, para se contrapor a eros temos logos. A dinâmica entre estes dois aspectos humanos, gera uma moral. No caso, a moral sexual.

O casamento, entre outras coisas, por definição jurídica tem como escopo a regulamentação das relações sexuais entre os seres humanos. Mas, mesmo antes de casar já há uma limitação a este impulso natural.

Dito isso, logos colocou limites a eros: uma pessoa maior de idade não pode dar vazão a eros em uma pessoa menor de idade. Qualquer erótico que gere prazer no adulto em contato com um menor de idade pode configurar abuso. Regra clara e objetiva imposta por logos, mas nem sempre cumprida por eros. Como este tipo de situação abusiva ocorre, normalmente, em segredo, eros acredita que não será pego por logos.

A dinâmica entre eros e logos é conturbada. Por isso muitas religiões optam por proibir qualquer tipo de relação sexual entre as pessoas que serão os monges ou padres. Os estudantes que têm aspiração a tal carreira, nestas religiões, fazem, entre outros, o voto de castidade. Esta ordem  acredita que é mais fácil conter eros por meio da castidade.  Ou seja, para que eros não se perca, é melhor que nem saia de casa para passear.

Há porém, outras religiões que não têm a castidade como um dos votos para o ministério da fé. Ambas posições são respeitadas: ser ou não casto para se tornar um líder espiritual é uma questão de opção religiosa.

Mas, um líder religioso que tem relação sexual com seus fiéis está fazendo algo de errado? A resposta tem duas vertentes. Depende. Primeiro se a relação é ou não consentida. Segundo, se é ou não decorrente de sua função como líder, ou seja, utilizando-se da vulnerabilidade de seus fiéis. Se a religião defender a castidade, a resposta será absoluta e caracterizará a violação do voto e da ordem da religião. Agora, se a religião não tiver como sustentáculo a castidade, autorizando o relacionamento sexual de seus líderes, a questão fica mais relativa.

O que importa é tomar as acusações de assedio, pedofilia,  estupro, etc.. que recaem sobre diversos líderes espirituais, e fazer disso uma alteração na legislação brasileira, fazendo com que líderes religiosos, que tenham fiéis sob sua confiança, não apenas sejam condenados à detenção, como já previsto no art. 215, art. 216-A do Código Penal, como também sejam impedidos de exercer a função que exerciam das quais abusaram da confiança de seus fiéis.  Penalidade que também deve ser aplicada a qualquer membro da religião que tenha tido conhecimento inequívoco do fato criminoso e não tenha  noticiado às autoridades com o intuito de manter a imagem da instituição.

Last modified: 23/01/2019

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