A verdade de um pode não ser a mesma do outro

Cartas

“Meu propósito não é ensinar aqui o método que cada qual deve seguir

para bem conduzir sua razão, mas somente mostrar

de que modo me esforcei por conduzir a minha.

                  DESCARTES”

Queridos irmãos,

Agradecemos a Deus por nos ter dado a força necessária para escrever a vocês as palavras que seguem:

O reconhecimento da verdade depende de cada pessoa.

A verdade de um pode não ser a mesma do outro, e nem por isso, esta verdade é melhor ou pior.

Assim, nos esforçamos para poder compartilhar com vocês, neste espírito natalino,  as  nossas humildes verdades, sem contudo, admiti-las como únicas e absolutas.

O sofrimento causado pelo stress cotidiano nos fez parar para pensar acerca do objetivo de nossas vidas.

Para onde estamos indo ? Qual o objetivo final nesta luta desenfreada ? Estamos progredindo ou não ?

A sociedade nos ensinou  que para sermos bem sucedidos, precisamos gozar de uma tranqüilidade financeira, constituir uma família, ter uma boa colocação no mercado de trabalho, uma casa (ou apto.), um carro, poder viajar, etc…

Alcançar todas estas coisas não é fácil, e confessamos, essa busca nos leva a um certo sofrimento.

Diante deste sofrimento, questionamo-nos se estes seriam os objetivos finais de  nossas vidas.

Chegamos, após algumas reuniões em nosso humilde grupo de filosofia,  e após o estudo do livro que segue, como um pequeno presente a vocês, à conclusão de que nosso objetivo final de vida é sermos FELIZES.

A conseqüência disto é que todas essas “exigências” da sociedade passaram a ser, no máximo, INSTRUMENTOS para alcançarmos  nosso objetivo final, ou seja,  A FELICIDADE.

A vida fica mais fácil, pois sabemos – pelo menos na teoria ( pois não tivemos a vivência, p.ex.,de São Francisco de Assis). – de que a ausência de qualquer um desses elementos, não significará o nosso fracasso.

Caso contrário, teríamos que admitir que o cego, o mudo, o surdo, o aleijado,  o pobre o miserável,  não teriam o direito à FELICIDADE, o que não seria JUSTO !

A vida comprova esta teoria na medida em que nos mostra pessoas que possuem todas aquelas “exigências”, e não são FELIZES. Por outro lado, encontramos outras pessoas que não possuem nada do que buscamos exteriormente, mas vivem uma vida MUITO FELIZ ! .

Confessamos que não foi muito difícil chegarmos até aqui.

O nosso grande desafio, e este ainda está longe de ser conquistado,  é encontrar a forma pela qual alcançaremos a FELICIDADE, através de um equilíbrio entre o espiritual e o material.

Não temos dúvidas de que Jesus Cristo trouxe para nós um dos mapas para alcançarmos o caminho da FELICIDADE !  Esta foi a sua MISSÃO !

Talvez a aparência sofrida nas imagens que vemos de Cristo, contrarie a informação de que ele tenha sido um mensageiro da FELICIDADE.

Esta impressão de sofrimento faz com que não nos preocupemos em seguir seu exemplo, pois não há ser humano no mundo que sinta  vontade de sofrer.

O estado de sofrimento inerente a todo ser humano que não atingiu a FELICIDADE  plena, representa  um obstáculo a ser superado  e não suportado!!!

Não seria inteligente, saber que estamos sofrendo, e não procurarmos a cura para este mal.

Daí que, olhando em nosso interior percebemos que as nossas maiores fontes de sofrimento estão diretamente ligadas a :

a) prendimento ao corpo: Ex: Medo da morte, de doença, de acidentes seja em relação a nós, ou em relação a nossos amigos, familiares, etc…;

b) convívio com as demais pessoas: Ex.: raiva, rancor, ódio, posse, desrespeito, ciúme, inveja, competição, etc…

 c) prendimento aos bens materiais: briga entre amigos, irmãos, tios, tias, casais em razão de dinheiro; distanciamento dos filhos por pais que trabalham muito  para manter um padrão de vida elevado;  etc, etc, etc.

E, diante destes sofrimentos,   sentimo-nos capazes de enfrentá-los.

Queridos amigos !   Não temos a pretensão de  inventar a roda novamente (que é o que fazemos ao tentar resolver problemas que outros já resolveram no passado).

Por isso,   encontramos nos ensinamentos de Cristo saídas para minimizar estas terríveis fontes de  sofrimento.

A nossa corrida em busca da tranqüilidade financeira (na maioria das vezes alcançada apenas com muito tempo de trabalho), não nos deixa parar para pensar em determinados assuntos. .

Pedimos a vocês então, que recebam este presente de Natal, que preparamos com muito AMOR, e reflitam sobre os ensinamentos do Mestre, cujo nascimento estamos comemorando há mais de 2000 anos.

a) Prendimento ao corpo

Quem de nós já não teve uma morte na família ?

A morte de um ente querido, pode nos tirar toda a vontade de viver. Imaginem, a morte de um filho, uma esposa, um neto, um amigo íntimo… Quanto sofrimento isto pode causar ?

Da mesma forma, a doença pode também, trazer muito sofrimento para um lar. Não precisamos narrar aqui casos e mais casos para convencê-los de que a doença e a morte são grandes fontes de sofrimento da humanidade.

Todos sabemos disto, pois convivemos no dia-a-dia, com estes fenômenos naturais que nos perturbam, e muito !

Ora, não seria inteligente passar a vida inteira sabendo da existência desta dor, sem querer curá-la !

O afastamento da espiritualidade nos fez acreditar que somos apenas matéria.

Mas não foi isto que Cristo nos ensinou !

Aprendemos na segunda epístola de Paulo aos Corintios:

“5. Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus.

E, por isso, neste tabernáculo gememos, aspirando por ser revestidos da nossa habitação celestial;

Se, todavia, formos encontrados vestidos e não nus.

Pois, na verdade, os que estamos neste tabernáculos gememos angustiados, não por querermos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida.

Ora, foi o próprio Deus quem nos preparou para isto, outorgando-nos o penhor do Espírito.

Temos, portanto, sempre bom ânimo, sabendo que, enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor;

visto que andamos por fé, e não pelo que vemos.

Entretanto, estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor.

É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe ser agradáveis.

Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo.”

O texto acima é claro !

Conciliando esta idéia com a da ressurreição, que Cristo também pregou e, somando ainda, à conclusão de Sócrates em seu diálogo com Fédon[1], concluímos que SOMOS ALMAS QUE ESTÃO TEMPORARIAMENTE HABITANDO UM CORPO.

E, é esta a pregação de Cristo, de Buda, São Francisco de Assis,  Platão, Gandhi, Madre Tereza de Caucutá, entre centenas de outras pessoas. 

Em verdade,  somos  ALMAS recebendo a consciência da ETERNIDADE  !

Diminuem-se os medos, as aflições, vive-se mais intensamente o presente,  e assim, não há motivo para pressa.

Isto nos dá  força para lidar com todos os nossos vícios, já que eles estão diretamente ligados ao corpo físico, que é comandado pela nossa alma,  livre, soberana e poderosa. 

Não há termo final na nossa vida ! ! ! (Isto é lindo!)

Assim, devemos ser FELIZES  AQUI e AGORA !

 

b) convívio com as outras pessoas

O convívio social muitas vezes pode ser desgastante.  Procuramos conviver junto das pessoas que mais se parecem conosco, física, financeira, e intelectualmente.

Desta forma, exigimos pouco de nossa capacidade de convivência e adaptação, e com isso, nos afastamos daquelas pessoas que poderiam   ajudar a lapidação da nossa alma, excluindo-as do nosso convívio.

Criamos assim, nossos ex-amigos, ex-maridos, ex-esposas, ex-irmãos, a até mesmo os ex-filhos e ex-pais.

E estes atritos pessoais nos levam a raiva, ao rancor, ao ódio.

 

Para esta situação, entre muitas, separamos os seguintes ensinamentos de Cristo:

 

Da vingança

“Ouviste que foi dito: Olho por olho, dente por dente.

Eu, porém vos digo: Não resistais ao perverso; mas a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra;

E ao que quer demandar contigo e tira-te a túnica, deixa-lhe também a capa.

Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas.

Dá a quem te pede, e não voltes as costas ao que deseja que lhe empreste.”

(MATEUS 5, 38/42)

E ainda,

“ Do amor ao próximo

         Ouviste que foi dito : Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo.

         Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem;

Para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos.

Porque se amardes os que vos amam, que recompensa tendes ? não fazem os gentios também os mesmos ?

Portanto, sede vós perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste.” (MATEUS 6, 43/48)”

 

Pode nos assustar a mensagem de amor ao nossos inimigos, ou àqueles que aparentemente nos fizeram mal.

Mas será que Cristo errou ?

Claro que não !

Se não há vontade de vingança, conseqüentemente,  não há raiva, rancor ou ódio, e assim, estamos livres para sermos FELIZES.

Por isso, aceitamos como verdade os ensinamentos Cristãos acima reproduzidos. (Isto não quer dizer que já conseguimos atingir este estágio de PAZ espiritual, Mas temos certeza, que nosso caminho está traçado para alcançá-lo)

 

c) do prendimento aos bens materiais

A nossa ligação aos bens materiais é sem dúvida muito forte.

Esta questão é polêmica e gera muitas discussões.

Acreditamos que Cristo,  São Francisco e Buda, ao pregarem o desprendimento dos bens materiais, nada mais fizeram, do que provarem que a FELICIDADE depende apenas de nosso estado de espírito (quem somos) e não de nosso bens (o que temos).

E esta mensagem é bem clara, quando Cristo diz : “Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus”.  (MATEUS 19, 23)

Cristo disse que é difícil, mas não,  impossível !

Quantas noites mal dormidas, quanto stress, quanta saúde desperdiçada, por anseios  materiais bem acima das nossas necessidades ?

Devemos ser pobres ? Abrir mão das nossas riquezas ?

Óbvio que não !

Já temos exemplos suficientes de pessoas que abriram mão de seus bens para nos mostrar que a FELICIDADE não está neles depositada.

De fato, temos que deles nos utilizar,  para nosso benefício e de todos que estão em nossa volta, sabendo que sua eventual perda, não significará nossa ruína.

 

Conclusão

 

Caros irmãos !

Vamos nos espelhar nas  pessoas FELIZES !

Elas estão no caminho divino, ainda que não seja  em nome de qualquer religião.

Repetimos : Cristo é um exemplo de FELICIDADE e não de sofrimento!

Cristo foi FELIZ e por isso temos que tomá-lo como estrela guia, para minimizar nosso sofrimento decorrente do  desequilíbrio do convívio humano, do apego ao corpo, e do apego aos bens materiais.

Desejamos a vocês um FELIZ NATAL e UM PRÓSPERO ANO NOVO, COM MUITA SAÚDE, PAZ, E ALEGRIA  !

Que Deus nos abençoe !

São Paulo, dezembro de 2001

 

André Bittar de Noce             Fabio Machado de Almeida Delmanto

Marcelo Ribeiro                      Paulo Thomas Korte

[1] Sócrates foi condenado à morte por insistir em seu ideal. Antes de ingerir a cicuta, seu discípulo Fédon questionou-lhe a razão de sua serenidade diante do que entenderia como o fim. Sócrates em inteligente narrativa; justifica-se concluindo pela ETERNIDADE DA ALMA.

Last modified: 26/08/2019

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