Estamos confinados em casa há mais de 40 dias, lutando pelas nossas vidas, nossa saúde e preocupados com a economia do país, com a expectativa do fechamento de inúmeras empresas e consequentemente, milhões de desempregados por conta da pandemia mundial.
A nação deveria estar unida para enfrentar este problema de proporções gigantescas que abalou, não só o Brasil, mas também as grandes potências mundiais.
E, para a nação estar unida, os líderes deveriam dar o exemplo. E quem são os quatro principais líderes diretos do nosso país? Fernando Henrique Cardoso, Lula, Sérgio Moro e Bolsonaro.
Há outros líderes indiretos, que comandam temporariamente cargos importantes, como o Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, Presidente do Senado, Davi Alcolumbre, Presidente do STF, Dias Toffoli e outros líderes institucionais. Estes têm muito poder, mas é temporário.
A diferença dos líderes diretos dos indiretos é que os primeiros têm poder político diretamente pelo contato com o povo, e os indiretos têm poder apenas decorrente dos cargos que ocupam.
Todos estes líderes citados deveriam deixar suas diferenças de lado, neste momento, afinarem o mesmo discurso para liderarem a nação para enfrentarmos a pandemia.
Mas não é isso que estamos vendo!
Ontem fiquei estarrecido com o que vi. (Justamente no dia em que morreu uma querida amiga de COVID-19).
Um presidente eleito com a promessa de colocar Moro no Ministério da Justiça, com carta branca e sem interferência alguma, voltar atrás em sua promessa.
A carta não era tão branca. Era cinza. E cinza por que ? Porque passou a se interessar pelas investigações da PF nos inquéritos de seus filhos.
Confessou, sem seguir o conselho popular (“consulte sempre um advogado”) em rede nacional, ao vivo, que interferiu em inquérito policial pedindo o interrogatório de uma pessoa!!! E o pior, achando que estava tudo bem em fazer isso.
Há muito tempo vi um filme com Tom Cruise e Jack Nicholson (Código Vermelho). Em seu depoimento o então militar do filme confessa seus crimes por entender que estava fazendo a sua obrigação e o melhor para o país. (Link anexo). A semelhança com o discurso de Bolsonaro ontem é tristemente curiosa. Bolsonaro confessa a acusação achando que fez a coisa certa e que não cometeu ilegalidade alguma.
Bolsonaro mentiu ainda dizendo que Moro só aceitaria a troca da PF após ser nomeado para o Supremo em setembro. Se o seu desejo de ocupar o STF fosse tão grande engoliria o sapo até setembro, já seria o óbvio. Mas a mentira ficou mais exposta ainda com a mensagem da Deputada ligada ao governo, prometendo o cargo a Moro caso aceitasse a mudança e com a resposta dele: “Não estou à venda”.
A Deputada hoje não desmentiu a conversa registrada. O presidente preferiu não comentar também a mensagem que trocou com o Ex-Ministro, dizendo que era necessário mudar o comandante da Polícia Federal justamente porque estavam investigando 10 ou 12 advogados Bolsonaristas.
Moro podia ter saído em silêncio. Discordado da exoneração de Valeixo e simplesmente, saído. Podia ter feito assim. Mas não fez. Não fez porque é quem ele é. Preferiu expor a verdade, com provas previamente produzidas, e tocar fogo no coreto. Fogo concreto e devastador, baseado na verdade. E qual a verdade incontroversa (porque foi confessada): Bolsonaro queria e quer influenciar nas investigações da Polícia Federal comparando-a a Abin .
Fez esta comparação infeliz certamente sem consultar um jurista: Abin é subordinada ao Presidente e a ele deve informações. A PF não! De forma alguma!
Enfim, Moro podia ter saído em silêncio. Mas, da mesma forma, podia ter mantido o sigilo no processo na gravação que impediu que Lula se tornasse ministro do Governo Dilma, e ninguém teria escutado o áudio do “Bessias”. Agora, pau que bate em Chico, bate em Francisco. Bolsonaro, ontem, recebeu de Moro exatamente o que Lula sentiu no vazamento daquela gravação.
A forma da publicação da gravação de Lula com Dilma foi objeto de processo disciplinar: Moro foi julgado pelo CNJ, como juiz, e absolvido por seu ato.
Agora, terá um julgamento ético e moral, com relação a sua saída estrondosa do Governo, fazendo imputações criminais, e divulgando mensagens como prova delas. A primeira consequência é a própria perda do cargo, do salário e da segurança que tinha lá. Podia ter ficado quieto no governo. Mas não quis.
Nos dois episódios Moro estava do lado da verdade. No primeiro porque as conversas mencionando o “Bessias” de fato ocorreram. E no de ontem, Bolsonaro reconheceu expressamente que quer ter informações da PF com a mesma agilidade que tem informações da Abin, porque todos eles são “subordinados” a ele que é o “chefe supremo”.
Como espectador que sou, sem heróis a defender (a não ser, Cristo, Buda e São Francisco), e usando do meu direito sagrado de expressão, vejo o episódio de ontem com as seguinte lógica:
1. Moro saiu da Magistratura abrindo mão de salário e aposentadoria integral para fazer parte de um governo com a promessa explícita de Bolsonaro de que teria carta branca para administrar o Ministério da Justiça;
2. Bolsonaro retirou a carta branca prometida, e começou a interferir em investigações da PF. (Confessou expressamente duas interferências concretas)
3. Bolsonaro mudou o Chefe da PF sem a concordância de Moro rompendo com sua promessa, no meio da pandemia;
4. Moro, em contrapartida, com o mesmo barulho do dia em que divulgou o áudio de Dilma e Lula, mostrou sua indignação quanto à promessa de Bolsonaro não cumprida, saiu do cargo e contou uma verdade com provas concretas sobre ela.
Agora, se ele exagerou ou não, em sua saída, fica o julgamento de cada um. Para mim ele foi ele, nem bom nem mau. Fez o que sabe fazer e assumiu as consequências de dizer a verdade.
E repito: a verdade é que o Presidente quer receber informações da Polícia Federal, “relatório a cada 24h” como ele mesmo disse.
E já que o real problema do nosso país (Covid-19), parece não importar nossos líderes, constatamos que estamos, mais uma vez, nas mãos do Congresso, formado por 81 senadores e 513 deputados, que têm o poder constitucional de tirar o presidente do governo, por meio do impeachment;m, bem como qualquer um dos ministros do STF pelo mesmo processo.
Se Bolsonaro renunciasse seria mais fácil.
Certamente Moro não tem apenas 2 mensagens de WhatsApp como prova. Deve ter mais coisa. (Não duvido que tenha a gravação de sua conversa de ontem às 9h com o Presidente. E se o presidente falou o que falou em público imagina o que deve ter falado no privado…)
Espero (ingenuamente, eu sei) que Bolsonaro renuncie e deixe Mourão terminar este governo.
E, se não o fizer, espero que nossos deputados e senadores ajam com sabedoria nesta hora para o melhor do nosso país.
Por fim, digo que a saída de Moro deste governo cria um “vácuo” maior, entre lulistas e bolsonaristas. E, alguém deverá preenchê-lo para liderar os brasileiros que jamais votarão em Bolsonaro novamente, como também não votarão em qualquer candidato ligado ao PT.
(Paulo Thomas Korte, 25 de abril de 2020).
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