A vida como uma escola

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São Paulo, 17 de junho de 2002

Queridos irmãos,

Vejo a  vida como uma escola :

Ao irmos à escola temos que nos ajustar às suas normas, da mesma forma que, ao nascermos temos que nos ajustar às leis da vida (não vamos nos confundir com leis da sociedade que, na maioria das vezes são efêmeras e principalmente bairristas).

As provas que fizemos na escola, sem dúvida, consistiam em  sofrimento, traduzindo a palavra em sentido amplo, que inclui os desafios. (Lembram-se da dor, da angústia, na véspera das provas! Dos momentos de lazer, trocados por horas de estudo ! Da ansiedade na espera do resultado! Da satisfação com um bom resultado ! Da tristeza e do medo diante do resultado negativo !).

Na escola, para passar da 1ª, para a 2ª, tinhamos que ter aprendido a matéria da 1ª.

Para passar da 2ª para a 3ªsérie tínhamos que ter aprendido a matéria passada na 2ª série, e assim sucessivamente.

Quantas provas fizemos neste meio tempo até completarmos o segundo grau ? Fiz o cálculo aproximado: São 11 anos. Se pensarmos em uma escola de sistema trimestral com 2 provas por trimestre, chegaríamos a conclusão que fizemos nada menos do que 66 provas por matéria. Considerando, 8 (oito) matérias por ano, chego à conclusão que passamos 518 vezes pelo sofrimento de fazer provas.  Isto sem contar as provinhas, trabalhos, lições de casa, etc… !

E, eu lhes pergunto :

Alguém teria feito diferente ?

Não será isto que queremos para os nossos filhos ?

Acredito que a vida também funciona assim.

Somos almas que quiseram entrar na escola da vida para aprender. Aprender o quê ? APRENDER A AMAR.

E o que ganharemos ao nos formarmos : FELICIDADE !

Da mesma forma que a escola está subdividida em séries, acredito que o caminho da vida está subdividido em níveis de AMOR.

Quando criança, estamos em um determinado nível de AMOR. Para aumentar este AMOR passamos por uma série de sofrimentos (repito : leia-se sofrimento também com o sentido de desafio).

Conforme atravessamos estes sofrimentos, nos envolvemos em outro, e assim, sucessivamente até alcançarmos o nível de AMOR máximo, onde estaríamos unidos com todos outra vez, o que os budistas chamariam de ILUMINAÇÃO.

Na escola, não podemos nos desviar do sofrimento das provas da 2ª série e passar para a 3ª.

Da mesma forma, não podemos passar de um nível de AMOR, sem  ter passado pelo nível imediatamente abaixo.

ÓTIMO!

E qual seria o primeiro nível de AMOR ?  Amar a nós mesmos.

E o segundo ? Amar pelo menos um pessoa.

E o terceiro ? Amar um grupo de pessoas

E o quarto ? Amar sua nação.

E o quinto ? Amar a humanidade.

E o sexto ? Amar todos os seres vivos.

E o sétimo : AMAR TUDO E TODOS !

Da mesma forma que não pudemos entrar na escola na 3ª série, também não podemos querer amar uma pessoa, se não nos amarmos primeiro.

Isto é lindo !

E, se não nos AMAMOS, vamos nos perguntar, porquê não nos AMAMOS ? O que temos de errado ? Como gostaríamos de ser?

Antes de responder estas perguntas, devemos assumir um compromisso : Prestar muita atenção nos nossos sentimentos, e principalmente, sermos sinceros (Isto significa sabermos reconhecer quando as coisas estão mal. Pois se continuarmos dizendo – Tá tudo bom, a vida está ótima – e não estiver, nossos neurônios não vão saber encontrar uma saída  para nos tirar de um sofrimento que existe, é real, mas que constantemente estamos tentamos camuflá-lo). Esta introspecção não aceita mentiras !

Respondendo as indagações supra, sem dúvida encontraremos coisas que não gostamos em nós, mas que também não estávamos querendo, consciente ou inconscientemente modificá-las. E esta inércia se dava por uma simples razão: Por que para mudar é preciso impingir uma certa quantidade de energia, e principalmente de disciplina !

Este processo infelizmente, não é um racional. Digo infelizmente pois racionalizar as coisas é fácil, demanda apenas racionício lógico. Mas com o AMOR as coisas não funcionam assim. Não basta nos conscientizarmos de que nos amamos, ou amamos determinada pessoa, devemos sentir, e sentir não é racionalizar !

Só através do sofrimento é que podemos aprender, e colocar a prova aquilo que aprendemos.

Parece mórbido. Mas não é.

É assim que funciona o mundo em que vivemos.

Se ficarmos amigos do sofrimento, ele passa mais rápido. Devemos abraçar o sofrimento e perguntar-lhe : O que você veio me ensinar desta vez ?

Porém se colocarmos o sofrimento como nosso inimigo, tentaremos nos enganar e nos convencer, e aos outros, de que o mundo está perfeito, nós estamos ótimos, etc…, e com isso, bloquearemos nossos recursos mentais para sairmos do estado de sofrimento.

E, isso não quer dizer que tenhamos que ficar nos lamentando, de tudo e de todos, mas compreendermos que  é assim que funciona a vida, ou seja, passamos por um sofrimento, temos um tempo de paz, e começamos outro sofrimento. Tendo a consciência disso, não nos desesperaremos com os nossos sofrimentos futuros, pois teremos a certeza que eles irão passar, da mesma forma que as provas que fizemos na escola, e no final, teremos a recompensa da FELICIDADE.

Seguindo este raciocínio, temos que a FELICIDADE não é um objetivo, mas sim a consequência da conquista do objetivo.  E o objetivo é aprender a AMAR. Quanto mais AMAMOS mais somos FELIZES !

Entendo que o jogo da vida fica mais interessante desta maneira, pois se entendermos que a  FELICIDADE é um objetivo final, ficaremos vulneráveis a um dos sentimentos mais inerentes do ser-humano: A PREGUIÇA.

Explico : Uma das coisas que mais nos faz sofrer é justamente a que mais nos faz aprender a AMAR, que é o RELACIONAMENTO. Se entendermos que a FELICIDADE é o objetivo final, muitas vezes, optaremos em deixar de nos relacionar com determinada pessoa, ou grupo de pessoas, cujo relacionamento nos é penoso. Sem dúvida, estaremos seguindo o caminho mais fácil, a separação. Seria como que tivéssemos fugindo de uma prova da escola, não passamos pelo sofrimento de fazê-la, mas também não passamos de ano. Assim, ficaríamos estagnados em nossa evolução nesta escola do AMOR.

Daí vem a expressão cristã, de amar nossos inimigos, pois sem dúvida, amar os inimigos é um nível muito superior do que amar aos amigos, pois exige muito mais de nós. Saber nos relacionar com os diferentes, sem dúvida é mais penoso do que com os que nos são semelhantes.

Termino este raciocínio com um conto  tibetano: Havia um monge que há oito anos estava enclausurado sozinho em uma caverna do himalaia, tentando obter a iluminação. Após estes longos anos, saiu da caverna triste  pois não conseguira alcançar seu objetivo. No caminho de volta à sua cidade, encontrou um cachorro cheio de bernes. O cachorro estava mal, muito mal, pois os bernes estavam lhe tirando a força e o ânimo de viver. O monge comovido, começou a tirar os bernes do cachorro. Terminada a operação nada agradável, o monge viu os bernes no chão se debatendo pois certamente morreriam. O monge com compaixão disse: Como posso deixar que estas criaturas morram, ou fiquem ai sofrendo ?  Assim, tomado da mais pura compaixão, o monge pegou, uma a um dos bernes e foi colocando em seu corpo. Neste instante, apareceu em sua mente a imagem de Buda que disse: Agora, ó monge, você alcançou a iluminação. Sem se relacionar é impossível praticar a compaixão e consequentemente, impossível alcançar a iluminação.

Desta forma, o monge atingiu o grau máximo de AMOR, ou seja, a ILUMINAÇÃO, e cosequentemente sentiu a mais pura e constante FELICIDADE.

É isso, meus irmãos, vamos aprender a AMAR, AMAR,  AMAR, e natural e consequentemente, seremos muito, mas muito mais FELIZES !

Amo muito vocês,

Paulo T Korte

 

 

 

 

Last modified: 26/08/2019

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