Aos irmãos confrades

Cartas

São Paulo, 9 de novembro de 2000

Caros irmãos-confrades,

Agradeço os cumprimentos recebidos, bem como a presença de todos vocês.

Nos últimos anos fiz uma introspecção a respeito da minha vida. Estava me sentindo como um remador, remando com a máxima força, sem saber ao certo para onde ir.

De fato, pensava que meu objetivo era ter uma casa, um carro, uma família, filhos, viajar.

Mas na verdade, eu não sabia porque eu queria ter tudo isso.

Lendo alguns autores, descobri na lição do Dalai Lama, uma definição que me serviu : Todo o ser humano está em busca da FELICIDADE.

Ótimo.

Definido o objetivo principal da minha vida, percebi que alguns dos meus sentimentos atrapalhavam este objetivo. Ou seja, não adiantava eu ter tudo o que queria, se estes sentimentos não fossem banidos do meu interior.

Principalmente, dois eram estes sentimentos : Julgamento e o Rancor.

Julguei, muitas vezes, meu pai, meu irmão, que estão aqui presentes, meus amigos.

Pensava que eles estavam fazendo coisas que ao meu ver eram erradas.

Por isso, por algum tempo deles me afastei, sem oferecer um caloroso abraço, ou um sorriso sincero.

Vendo que este sentimento me fazia INFELIZ, e portanto, obstaculizava meu objetivo de vida, procurei algum ensinamento que pudesse me fazer superar este meu defeito.

Lendo o Novo Testamento, encontrei a solução nos ensinamentos de Cristo, dizendo para que eu não julgasse, para também não ser julgado.

Na verdade, o que eu estava fazendo era muito pior que julgar, eu estava condenando os que estavam próximos a mim, por não terem o mesmo entendimento que eu tinha na época.

Mas quem garante que o meu entendimento era o que estava certo, e que o deles estivesse errado.

Quantas vezes tomei atitudes e falei coisas das quais me arrependi ?

Vi que eu estava sendo muito pretensioso, e por isso, me policio hoje, para não tomar a mesma atitude equivocada.

O rancor por outro lado também estava   atrapalhando minha FELICIDADE.

Como um advogado, em causa própria, procurei livros para me defender deste sentimento malígno que tantas noites, tirou o meu sono.

Encontrei também uma doutrina que me ajudou nesta causa:

Pedro perguntou a Jesus, quantas vezes deve-se perdoar um irmão. Ele perguntou : Sete vezes ?

Jesus respondeu: Não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete.

Outra passagem bíblica, do velho testamento, também menciona que Deus não aceitaria oferendas ou preces, daquele que estivesse desentendido com algum irmão.

Admiti, estas lições como verdadeiras, e também perdoei as minhas atitudes equivocadas, e a dos meus amigos, irmãos e pais, que na época eu teria entendido, dentro do meu cego ponto de vista,  como agressoras.

Hoje, agradeço a todos os momentos difíceis e as palavras ríspidas recebidas daqueles que me cercam, pois foram eles que  me propiciaram uma oportunidade para eu me conhecer e controlar estes meus sentimentos ruins.

Acredito, que hoje, usufruo de uma PAZ familiar e com meus amigos, que só foi conquistada, após um longa e tenebrosa tempestade interior.

A todos vocês, que me cercam, principalmente meus pais e irmãos aqui presentes, eu agradeço, pela oportunidade da conversa amiga, e pelas maravilhosas lições recebidas.

Muito obrigado

 

 

Last modified: 26/08/2019

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