O Ensinamento – Llama Santem

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O ensinamento não é uma coisa que se entendeu uma vez e está resolvido. Após termos compreendido alguma coisa intelectualmente, precisamos continuar a praticar.

Mesmo tendo uma pessoa durante toda a sua adolescência observado seus pais dirigindo – ela conhece a teoria, os sinais de trânsito, etc. – ainda assim, quando vai tirar a carteira de motorista, senta no volante, mas não sabe dirigir. Ela vai precisar do instrutor que a ensine, que ande com ela várias vezes até que ela mesma gere a capacidade de dirigir sozinha. Mesmo assim, mesmo depois de ter a carteira, ela ainda não sabe bem como se comportar no trânsito. Ela vê um ciclista e fica insegura, com medo de atropelá-lo. Vê um cruzamento e fica com medo de parar e o carro de trás bater no dela.

Da mesma forma, é necessário praticarmos muitas vezes. No meio da prática temos obstáculos. Muitas vezes, achamos que não devemos praticar quando não estamos bem, mas não é assim. Devemos praticar sempre, a nossa meditação precisa ter o poder de nos ajudar, indiferente do estado emocional em que nos encontramos no momento – e ela tem esse poder!

Assim, sentamos para meditar, mesmo se estamos no meio de uma grande confusão. Se nesse momento nos damos conta de que tudo aquilo não passa de um tabuleiro, de que estamos jogando, só isso já dá um frescor. Sabemos que mesmo perdendo tudo, perdemos tudo apenas naquele tabuleiro, isso não é grande coisa. Isso nos dá a capacidade de olhar de cima com liberdade. Podemos gerar a capacidade de reiniciar a vida em qualquer ponto. Porque, de um modo geral, a nossa vida está presa em alguma coisa. Descobrimos que temos a capacidade de recomeçá-la sempre. É muito bom pararmos no meio da crise e dizer, “Bom, agora morri, não há dúvida.” Nesse momento, podemos aproveitar essa morte como uma vantagem e renascer. Na verdade, não temos outra saída, vamos precisar renascer, querendo ou não. Pode dar trabalho, mas renascemos.

É importante gerar esta experiência muitas e muitas vezes. Quanto mais vezes passarmos por um roteiro de contemplação, que nos ajude a visualizar uma experiência de conflito, de sofrimento, no nível do corpo, da fala, da mente e da paisagem, mais elementos de compreensão vamos adquirir. Desta forma, nos tornaremos capazes de ajudar os outros, pois todos nós passamos por situações muito parecidas.

Quando alguém nos descreve a situação em que está, ele começa descrevendo o tabuleiro; depois descreve as impossibilidades e os ataques que está recebendo no meio daquilo. É sempre a mesma coisa. Por isso, é importante desenvolvermos essa familiaridade com as circunstâncias e sermos capazes de utilizar essa sabedoria em meio às atribulações.

No entanto, temos um vício que nos atrapalha: quando estamos jogando um jogo, queremos ganhá-lo. Às vezes, utilizamos a conexão espiritual para ganhar o jogo, mas a conexão espiritual não é para isso. A conexão espiritual é para nos ajudar a reconhecer que estamos além dos jogos. Ela pode eventualmente nos facilitar vencer algum jogo, mas esse não é o objetivo. Vencido o jogo, começa a nova partida, a situação não se resolve nunca. Nós precisamos nos reconhecer livres para então poder passear por dentro dos tabuleiros sem   sustos

Last modified: 27/08/2019

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